quarta-feira, 20 de junho de 2012

Civismo

Que vivemos num pedaço de terra a que alguns teimam em chamar país, já toda a gente sabe.

Que se gasta dinheiro mal gasto, em obras faraónicas e em coisas que nem lembra ao Menino Jesus, toda a gente aceita.

Que se gasta dinheiro "bem" gasto, em casas, carros, viagens, whisky, jogo e casacos de peles para amantes (dinheiro esse cujo destino deveria ser o investimento e a criação de riqueza e de uma economia mais forte), toda a gente reconhece e, como se isso não bastasse, ainda aplaude.

Que somos feitos de uma massa à qual falta, na generalidade, alguma coisa, parece ser consensual.

E vem isto a propósito de que?
De passadeiras para peões, como é evidente.

Como esta, mas sem a jeitosa (só a passadeira. A jeitosa só cá está para criar algum frisson).


E a jeitosa passadeira tem a ver com quê, afinal?
Com peões, como é óbvio.

E com civismo, pois claro!
E bom senso e respeito por nós e pelos outros, e pela segurança de todos.


Tenho por hábito, quando estou a conduzir, parar sempre nas passadeiras quando alguém quer atravessar, seja um vestido vermelho curto ou um pedaço de "pano" de qualidade duvidosa.


E faz-me alguma confusão quando alguém, gentilmente, agradece a gentileza de ter parado (no caso dos vestidos vermelhos curtos até gosto e espero que a memória se mantenha intacta por muito tempo, para que eu mantenha em crédito os pontos amealhados com esse gesto).


Supostamente, não era suposto agradecer. Trata-se de algo que deveria ser normal, penso eu.
Mas dou por mim, na qualidade de peão, a fazer exactamente o mesmo.
Agradeço ao senhor ou à senhora, o facto de não me ter passado por cima, quando pretendia atravessar num espaço que, por lei, me era destinado para esse fim.


Enfim...


Resumindo, e indo directo ao assunto: parei para deixar passar um agente da autoridade numa passadeira. Pelo aspecto, ou tinha ido comprar tabaco ou levantar dinheiro no Multibanco, não importa agora.


O facto é que o agente agradeceu!


E eu, que há uns meses atrás me vi envolvido numa história com dois agentes que, contada, ninguém acredita (ou tinham fumado umas coisas e estavam alucinados, ou fugiram do manicómio e roubaram farda e veículo oficial, ou apanharam uma carga de porrada da mulher na noite anterior e ainda estavam de trombas..), fiquei a pensar: será que este era um daqueles de há uns tempos e o tipo reconheceu-me e respirou de alivio quando viu que não fiz nenhum arranque surpresa e não lhe passei por cima?
Estava a agradecer-me por lhe ter poupado a vida?


Um agente da autoridade com deferência para com um condutor que só estava a cumprir a sua obrigação?
Parece estranho, pois parece.


E a questão última, e cerne da questão: seria ele um dos elementos do par maravilha e eu, feito burro, não lhe passei por cima?


Agi bem? Agi mal? Como fazer numa próxima situação? Travar? Acelerar? Aproveitar a boa onda e dirigir-lhe um amigável manguito?


Passo a palavra ao simpático leitor.

2 comentários:

  1. Que post tão bom ;)

    eu paro sempre nas passadeiras, Mg. embora reconheça que vejo mais mulheres a não parar do que homens, acho que é um mal comum e é detestável.

    e também agradeço sempre (às vezes de vestido vermelho e curto ;) aos condutores por não me passarem a ferro (como alguns já tentaram fazer)

    quanto aos senhores policias, há de tudo, mas penso que (tal como nas restantes profissões) começa a haver parvoíce e estupidez a mais nas forças de intervenção publica...

    fica feliz, vais para o céu... no minimo ;)

    (meu Heroi :)

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